terça-feira, 27 de setembro de 2022

Doce tradição: Alguns saíram de cena, mas distribuição no dia de Cosme e Damião resiste


BAIXADA - Os que têm mais de 30 anos se lembram de um tempo em que todo dia 27 de setembro deixava mais doce a infância a cada esquina. Abrir os saquinhos de papel com desenhos de São Cosme e São Damião era o ponto alto da festa em homenagem aos santos gêmeos, que eram médicos. Melhor ainda era encontrar ali dentro um pirulito Zorro. E, se desse sorte, teria um drops Dulcora. Não faltavam os chicletes Ping Pong ou Ploc, que traziam figurinhas que, molhadas, viravam tatuagens. Mas só os premiados encontravam as balas Caramelo de Leite e Boneco. São delícias que ficaram na memória e que, vira e mexe, aparecem entre os saudosistas nas redes sociais.

Entre os doces que também tiveram a fabricação interrompida, estão as balas Klep’s. Elas vinham embaladas numa espécie de fita e tinham desenhos de bichinhos fofos e de uma menina. O drops Dulcora — balas quadradas, embaladas uma a uma — era vendido em vários sabores, incluindo hortelã, tangerina e misto.

Um dos que mais marcaram as infâncias foi o pirulito Zorro, guloseima feita de coco e caramelo — que quase sempre agarrava nos dentes. Era embalado em um papel com o desenho do herói de capa e espada e amplamente vendido nas décadas de 70 e 80. Não faltava nas lojas de doces, nos cinemas e nos melhores saquinhos de Cosme e Damião. Deixou de ser fabricado em 2006. A empresa Campineira, em Campinas (SP), que fazia o pirulito, foi adquirida pela Triunfo e, depois, pela Arcor do Brasil, que admite retomar a produção do doce.

Mesmo não sendo mais produzido, o Zorro ainda é lembrado hoje por quem trabalha com a venda de doces e por quem costuma comprar gulodices para distribuir à criançada.

— São Cosme e São Damião é o natal do setor dos doces. É quando as vendas aumentam 50%. Lembro que o pirulito Zorro era muito procurado. A gente vendia cem caixas dele em todo mês de setembro, contra as 50 habituais em cada um dos outros meses. Ele era um dos campeões de venda daquela época — disse Sandro Ferreira, que é fiscal de loja e trabalha há mais de 20 anos na Tarita Doces, uma das mais tradicionais no Mercadão de Madureira.

Devotas dos santos, Neise Viana, de 67, e Alexandra Bonfim, de 41, foram na última terça-feira ao Mercadão de Madureira, para comprar doces que vão encher os saquinhos que a família delas distribui há mais de dez anos. Elas se lembraram de outros doces que já não conseguem mais encontrar ou se tornaram difíceis de achar.

— Há mais de dez anos que distribuo doces em setembro. O Zorro já não vejo há muito tempo. Mas sinto muito a falta também da bananada de triângulo (que era espetada em uma espécie de haste de plástico ou de madeira) e a Maria Bonita (biscoito recheado com maria-mole). Não tenho conseguido achar esses dois — disse Neise.

Por pouco, as tradicionais balas Juquinha não deixaram de fazer a alegria da garotada — e de muito marmanjo. Sua fabricação chegou a ser interrompida por alguns meses, em 2015, em São Paulo, mas ela retornou ao mercado, no mesmo ano, após ter a fórmula comprada por um empresário carioca. Atualmente é produzida em vários sabores.

O cordelista Victor Alvim, de 48 anos, mais conhecido como Victor Lobisomem, participa de uma distribuição de doces em um terreiro de umbanda há mais de 20 anos. Ele diz guardar na memória alguns doces que sumiram do mercado. Mas, ao mesmo tempo, revela o que o saquinho precisa ter hoje para agradar à criançada.

— Dei por falta do Zorro e do Caramelo de Leite (da Nestlé), mas ainda há muitos doces bons. O que posso dizer é o que não pode faltar nos saquinhos: a maria-mole, o pé de moleque e o doce de abóbora. Se não tiver, não é saquinho de Cosme e Damião — brincou o cordelista, que, além de participar de uma a distribuição coletiva, também costuma enviar doces acompanhados de cordéis para alguns amigos.

Além da lista de Victor, guloseimas como flocos de arroz (também conhecida como cocô de rato), suspiros, sacos de pipoca doce e balas aparecem como alguns dos mais procurados em lojas pelos devotos de Cosme e Damião neste período.

— O suspiro é o campeão de vendas. A gente costuma vender umas mil caixas em setembro. Também são muito procurados os sacos de jujuba, os flocos de arroz, as cocadas e as balas — disse o fiscal de loja Sandro Ferreira.

Os gêmeos Cosme e Damião viveram no século III. Médicos, são reconhecidos pela Igreja Católica por curar as pessoas professando a fé cristã. Foram perseguidos e mortos pelo Império Romano. Por isso, são padroeiros de médicos e farmacêuticos.

Via: Jornal Extra

Nenhum comentário:

Postar um comentário