terça-feira, 7 de junho de 2022

Expansão do Porto de Itaguaí preocupa moradores e ambientalistas por conta da poluição


Novo terminal de 312 mil metros quadrados, ao custo de R$ 3 bilhões, vai permitir aumentar a capacidade de escoamento de minério de ferro em 30 bilhões de toneladas por ano. Especialistas acreditam que expansão vai intensificar a poluição trazendo prejuízos para a saúde da população.

ITAGUAÍ - A possibilidade de expansão do Porto de Itaguaí, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, vem causando polêmica na cidade. Após o Governo Federal anunciar a construção de um novo terminal de 312 mil metros quadrados, ao custo de R$ 3 bilhões, a prefeitura, moradores e ambientalistas da região se mostraram preocupados com as consequências da ampliação.

A prefeitura enviou um ofício para os governos Federal e Estadual pedindo que a obra não saia do papel. Segundo especialistas, o novo terminal pode intensificar a degradação ambiental da região, provocar o aumento da poluição e trazer prejuízos para a saúde da população.

A preocupação com a saúde dos moradores de Itaguaí se justifica, segundo as autoridades do município, por conta do aumento da capacidade de escoamento do minério de ferro no porto, que passaria a ser de 30 bilhões de toneladas por ano.

Contudo, esse volume maior de material no local pode ter consequências graves, alertam moradores e ambientalistas. Segundo Haroldo, pescador da região, o minério de ferro pode contaminar a água, as praias e os peixes.
"No momento que tá carregando, o minério de ferro cai na água, não tem jeito, com o vento, cai na água. É um pó e encalha até nas praias quando tá ventando", disse o pescador.
Para Haroldo, que vive da pesca de camarão, a poluição já prejudica quem depende do mar. Segundo ele, com a ampliação do porto, as coisas devem piorar.

Minério no manguezal

Cerca de 85% do minério de ferro do país é escoado por Itaguaí. Na cidade, o material é colocado em navios, de onde segue para os países compradores. Os pescadores denunciam que o minério lançado na água vai parar no manguezal.

"Olha a quantidade de minério aqui, ó, caindo pra dentro do manguezal. Nós estamos dentro da Ilha da Madeira, município de Itaguaí. É muito minério saindo aqui da manilha, do porto sudeste, muito minério. Água poluída de minério indo em direção ao manguezal. É aqui que se cria a maior quantidade de espécie de peixe, que é o nosso camarão, nosso peixe. É a maior riqueza nossa", comentou o pescador.

Até o prefeito de Itaguaí, Rubem Vieira de Souza, comentou sobre os problemas que o minério lançado no mar pode trazer para a cidade. Segundo ele, uma pessoa que mergulhar em Coroa Grande, por exemplo, pode sair da água como o personagem do filme "Surfista Prateado".
"Eu acho que o filme Surfista prateado foi inspirado em Coroa Grande e na Ilha da Madeira. A pessoa que entrar no mar sai igual o Surfista Prateado de tanto minério no corpo", disse o prefeito.
"Ter mais um terminal de minério intensificaria significativamente a poluição, trazendo prejuízos para saúde da população, que já sofre com problemas respiratórios, por conta da suspensão do minério. Mais um terminal iria intensificar ainda mais e prejudicar ainda mais a nossa fauna, a nossa flora, a biodiversidade de maneira geral", completou a secretaria municipal de Meio Ambiente de Itaguaí, Shayene Barreto.

Para o biólogo Mário Moscatelli, a história de degradação da Baía de Sepetiba se assemelha a da Baía de Guanabara.

"Crescimento urbano desordenado, falta de saneamento universalizado, transformando a baía hidrográfica num valão de esgoto. Todo esse esgoto e grande volume de lixo rumando para a Baía de Sepetiba. Além disso, historicamente, aconteceram grandes transformações na hidrodinâmica daquela baía, tanto para viabilização do Porto de Sepetiba como também pelo processo de macrodrenagem da bacia hidrográfica local".
"Espera-se que a história da Baía de Guanabara tenha ensinado alguma coisa de útil para que nós não repitamos na Baía de Sepetiba os mesmíssimos erros", completou Moscateli.
Destino do imposto

Além dos problemas que podem aumentar com a ampliação do Porto de Itaguaí, a questão fiscal também preocupa os gestores do município. Segundo o prefeito, a cidade fica com apenas uma parte dos impostos gerados com o comércio do minério de ferro.
"A gente perde muito isso em arrecadação. A arrecadação principalmente do ICMS, do Declan, porque ficam para sua origem, que é Minas Gerais. Minas Gerais, que produz o minério, só que quem vende e quem fica com o minério estocado é Itaguaí", explicou Rubem.
O que dizem os envolvidos

Em nota, a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico disse que a implantação do terminal é de competência federal e conduzida pela Companhia Docas.

Segundo eles, o governo do estado vem trabalhando para implementar uma rota de gás natural, que poderá tornar o Porto de Itaguaí um dos polos de escoamento de gás natural do Rio.

A reportagem pediu uma posição do Governo Federal, mas não recebeu resposta.

Via: G1

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