ITAGUAÍ - Os ex-ocupantes do "Acampamento de Refugiados 1º de Maio", no terreno da Petrobras, em Itaguaí, que foram realocados temporariamente no Ciep 496 reclamam de falta de acesso à água na escola. Em vídeos, eles denunciam que as torneiras estão secas, e os vasos sanitários, entupidos, e que para tomar banho algumas pessoas têm recorrido a um bar próximo à escola. Em um dos vídeos é possível ver o esforço para tentar desentupir os vasos sanitários com canecos feitos de garrafa pet. Outro vídeo mostra as torneiras de um bebedouro da escola sem água.
Uma das pessoas que está neste Ciep é Josilene Oliveira, de 43 anos. Ela vivia no acampamento desde o primeiro dia e era uma das cozinheiras da cozinha comunitária da ocupação. Antes, morava com a filha em uma kitnet.
— Em questão de alimentação estamos bem assistidos, porém a higiene está muito ruim. Os banheiros são precários, as descargas não funcionam. Não tem luz no banheiro. A escola tem luz, mas os banheiros não. — afirma.
Segundo ela, foram fornecidos kits de higiene com escova e pasta de dentes, mas não foram suficientes para todas as pessoas abrigadas na escola. Na última sexta-feira, enquanto protestavam na porta da delegacia de Itaguaí contra a prisão de um dos coordenadores do acampamento, Eric Vermelho, os ex-ocupantes também reclamavam que estavam proibidos de entrar e de sair livremente das escolas que serviam de abrigos, e que a comida que foi entregue estaria estragada.
Durante a ação da PM para cumprir a ordem de reintegração de posse na última quinta-feira, em que a polícia usou bombas de gás lacrimogêneo e um caminhão com água para tentar dispersar os ocupantes,muitos afirmaram que perderam objetos pessoais como roupas e documentos.
— A gente não teve tempo de tirar nossos pertences. Perdi fogão, bujão, minhas roupas. Estou com duas mudas de roupa, porque foi o que eu consegui tirar — afirma Josilene.
RI Itaguaí (RJ) 01/07/2021 - Criança carrega cachorro durante reintegração de posse no Acampamento de Refugiados Primeiro de Maio, na entrada de Itaguaí Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
Procurada, a prefeitura de Itaguaí ainda não se pronunciou sobre a falta de água no Ciep, que é municipal. A prefeitura afirma que 350 pessoas foram acolhidas e abrigadas no Ciep 496 e na Escola Municipal Wilson Pedro. O governo do Estado diz que cadastrou, neste sábado, cerca de 450 famílias retiradas da ocupação e abrigadas no Ciep para incluir as pessoas, que estejam dentro dos critérios estabelecidos, no Supera Rio, auxílio emergencial do estado de até R$300. Além disso, o governo distribuiu 300 kits com colchão, lençol, travesseiro e fronha, absorventes e máscaras.
Sem explicar o que fará com o terreno após a reintegração de posse, a Petrobras afirma que presta assistência às famílias com alimentação, colchonetes, cobertores, álcool em gel e máscaras, e que ofereceu transporte para rodoviárias próximas. Além disso, disponibilizou um serviço de armazenamento e guarda de bens em depósito contratado pela empresa.
O Acampamento
O grupo chamado "Movimento do Povo", que luta por moradia, ocupou o terreno da Petrobras no dia 1º de Maio. No acampamento, havia brasileiros e estrangeiros, entre assalariados, desempregados e aposentados. A área seria destinada à construção de um polo petroquímico, que acabou sendo levado para Itaboraí. A ocupação tinha apoio de centrais sindicais, que doaram alimentos e itens de higiene, e contava com uma enfermaria, cozinhas comunitárias, uma creche e quadras que foram improvisadas para que as crianças praticassem esportes. Entre as tendas e barracas também havia cabeleireiros, barbeiros e mercearias.
Acampamento de Refugiados 1º de Maio, em Itaguaí, tinha cozinha comunitária
Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
Em nota no site, a CUT-RJ (Central Única dos Trabalhadores) repudiou a reintegração de posse. A Federação Única dos Petroleiros (FUP) também se pronunciou sobre o despejo. "Quando souberam da ocupação, a federação e os Sindicatos de Petroleiros do Norte Fluminense e de Duque de Caxias se mobilizaram com doações de alimentos para os sem teto", afirma a publicação.
Via: Jornal Extra
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