Presidente de Associação diz que tem receio do vírus, mas que "vida não pode parar"
Segundo informações da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, o Censo da Educação 2020 contabiliza cerca de 4,5 mil alunos na rede privada da cidade.
Cláudia Cabral, que é dona da Escola Picapau (hoje com cerca de 300 alunos), também é presidente da Associação de Escolas Particulares de Itaguaí (Aepi), que representa 24 das 26 instituições privadas de ensino na cidade. Claudia conta que o ano de 2020 foi muito difícil: “Há escolas com situação financeira precária. Na Picapau, tive que fechar uma unidade, fazer readequação de custos e diminuir o número de matriculados para este ano”.
Ela contou também que já há algum tempo a Aepi tem feito reuniões com o prefeito Rubem Vieira (Podemos), a secretária de Educação e Cultura Nilce Ramos e a Vigilância Sanitária municipal sobre a volta das aulas presenciais. É por este motivo, segundo ela, que as instituições privadas se prepararam a tempo de poder oferecer aos pais e alunos a modalidade presencial, já autorizadas pelo decreto de dezembro do ano passado, que fixou em 1º de fevereiro o retorno físico dos alunos às salas de aula.
REUNIÕES E PREPARAÇÃO
Apesar da data fixada, as escolas particulares tiveram que solicitar autorização à Vigilância Sanitária, que, segundo Cláudia, fez inspeções de acordo com a Resolução Conjunta das secretarias de Saúde e Educação, emitida em 29 de janeiro. Ou seja, a Aepi teve acesso às regras para a volta às aulas presenciais antes da publicação no Jornal Oficial da cidade. “A gente já estava em negociação com a prefeitura”, confirma Cláudia.
Ainda segundo a presidente da Aepi, 20 escolas já foram autorizadas pela Vigilância Sanitária municipal para reabrirem suas salas e portões aos alunos e funcionários. A reportagem solicitou confirmação do número com a prefeitura, mas não obteve resposta. Cabral conta ainda que os fiscais fazem visitas esporádicas às unidades para conferir as adequações ao protocolo sanitário, mas a prefeitura também não respondeu a O DIA sobre o número de fiscais que dispõe para executar a tarefa.
A Resolução Conjunta apresenta um protocolo extenso e rigoroso de regras a seguir a fim de evitar a disseminação do coronavírus nas escolas, tais como limpeza de superfícies e ambientes de três em três horas, entrada e saída dupla de alunos em esquema de alternância, sala de precaução para sanitização, instalação de lixeiras com pedal e tampa, uso de equipamento de proteção individual por professores e funcionários etc.
Segundo a Aepi, todo o protocolo será obedecido pelas suas filiadas.
SISTEMA HÍBRIDO
A Escola Picapau voltou às aulas presenciais na última quarta-feira (3), em sistema híbrido, ou seja, parte na escola, parte em casa. São dois grupos de alunos: metade comparece às dependências físicas, metade tem acesso (via plataforma online) à aula pré-gravada preparada pela instituição. Em esquema de rodízio, os que ficaram em casa trocam com os outros no dia seguinte.
Segundo Cláudia Cabral, a esmagadora maioria dos pais e responsáveis pelos alunos concorda com o arranjo. “Só 10% dos alunos da Picapau vão ficar exclusivamente online, os demais aceitaram esse esquema”, contou ela. No entanto, em relação a outros filiados da Aepi, Cláudia diz que há um certo receio, e uma divisão de opiniões sobre a validade da adoção do esquema híbrido na relação e na comunicação com os alunos.
O arranjo, portanto, está longe de ser unanimidade, não só entre os donos das escolas. Uma mãe de aluno da rede pública consultada pela reportagem diz que prefere o filho longe da escola durante a pandemia, mas ao mesmo tempo acha ruim a qualidade do serviço online com uma plataforma ineficaz, que a obriga a orientar o filho com detalhes que não são observados pela direção das escolas. Quando pensou em matricular o menino em uma escola particular, percebeu que a adesão ao presencial era a maioria, o que a desagradou. Ela queria mais opções na modalidade online, como a transmissão da aula com o professor ao vivo, tecnologia que a maioria das escolas não oferece.
A volta ao presencial encontra o apoio de pais exauridos com as crianças em casa e de donos de escolas aflitos com falências iminentes. Mas ainda não há um direcionamento claro no sistema híbrido, na sua eficácia e nas suas modalidades. Além de ser novidade, há questões técnicas que em uma cidade como Itaguaí, cujas redes de telecomunicação são precárias, configuram um grande desafio.
Ainda segundo a presidente da Aepi, a Escola Picapau foi a primeira a retornar às aulas presenciais. As demais ainda estão vacilantes quanto aos métodos mais eficazes, mas Cláudia acredita que em pouco tempo vão aderir, apesar da pandemia. Ela defende seu ponto de vista: “Tenho receio, mas a vida não pode parar. Talvez seja mais seguro que as crianças estejam nas escolas ao invés de se arriscarem sem máscara no ar-condicionado dos shoppings. É mais fácil a escola fazer esse papel, ser um ponto de controle e monitorar os casos. Tenho uma creche no Recreio funcionando desde outubro, não tive um caso sequer, e o esquema em Itaguaí vai ser igual”, garante ela.
Quanto ao primeiro dia de aula presencial, ela avaliou: “As crianças foram muito disciplinadas, estão contentes em voltar, foram muito conscienciosas, ficaram de máscara o tempo todo”.
A rede pública, por seu turno, está longe de do consenso: apesar de ter data marcada para a volta presencial em 1º de março, em esquema ainda não explicado com clareza, o Sindicato dos Profissionais da Educação – representação Itaguaí – aprovou o indicativo de greve em assembleia virtual realizada na quarta-feira (3). O próximo encontro da categoria será no dia 11.
Via: O Dia
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